sábado, 3 de outubro de 2009

171 religioso: show de fantoches sob a direção de Pinóquio


O cafumango, sujeito espertalhão, grandes sonhos de poder, desejo de dominação, olha para o mercado e vislumbra que a sua iniciação como trabalhador não será fácil.

Primeiro emprego é balela lulista, chupetinha com mel para os que, abaixo da linha de pobreza, desafortunados, tristemente excluídos, se contentam com uma boquinha de R$ 60,00 mensais do bolsa esmola. Afinal, dá pra comprar arroz, feijão, farinha e um bocadinho de rapadura.

Rapaz com pouca idade, mas com muita lábia e rico em imaginação, logo vaticina: desse mato não sai coelho.

Fazer o quê, imagina consigo mesmo. Então lhe vem à mente uma atividade que não demanda grande esforço físico (porque afinal não é trator pra carregar peso): pregador/profeta. Isso mesmo, ele será um pregador. Daqueles com muita verve, contundente, imperativo. Um Rui Barbosa das lides evangélicas.

Ainda no esforço de pensar e tecer seus planos mirabolantes, imagina que esse mister não será difícil. Afinal, prova disso é a performance do apóstolo Valdemiro: nenhum conhecimento bíblico, muita lábia, forte apelo emocional e... pumba! Sucesso.

Deixando os pensamentos fluirem, vai além, viajando pelas brumas esfumaçadas do impossível, e, quase no 'limbo' , encontra o Show man Marco Feliciano: "pregador" de sucesso. É o limite para o seu autoconvencimento.

O que será necessário, se indaga. Hummmm... coça a cabeça, cutuca o dente (com o mesmo dedo), olha para o horizonte, olhar perdido, contemplando o nada e então lhe vem uma 'revelação' : aprender, ler livros de autoajuda, fuçar na internet, que tem tudo; decorar os chavões, sonoridade das palavras, entonação de voz, empostação.

Tudo é jeito. Decide que não vai mexer nos cabelos, nada de alisamento, aliás, breguice tem limite. Roupa bem chamativa, basta combinar preto e vermelho, abóbora com azul, amarelo e verde, como aquele do DNA, há instantes citado. Se é pra copiar, que seja no strinks.

É preciso uma unção especial... da galinha não pode, já tem dono, inclusive com registro em vídeo. Leão de Judá, nome danado de bonito, impactante, mas também já tem proprietária, certamente até com registro em cartório. Poderia até usar, mas sem andar de quatro, porque aí seria plágio completo.

Unção da prosperidade... unção de riqueza... de restauração... unção de Jacó. Acha que por aí a coisa funciona. É bem isso, ao contrário dos demais, que têm uma marca, um chavão que os caracteriza e 'denuncia' , ele terá muitos, inúmeros. Será criativo.

A pregação é coisa de somenos... basta dar uma volta no velho testamento, pega aqui e acolá um ou outro patriarca, pincela Genesis, passa por Crônicas, Juízes; se concentra nas maldições de Deuteronômio, manda ver com Davi e, entre uma e outra pregação muda a ordem das coisas, mas sem sair do lugar, sempe se mantendo em território conhecido.

Nunca ousar o Novo Testamento! Nunca! Esse negócio de graça, jamais! É tiro no pé. O tal do Paulo é atraso de vida: prosa difícil, nada de impacto, pouca possibilidade de subversão. Decididamente não. Fica então estabelecido: nada de evangelhos.

O negócio é maldição hereditária, quebrar tudo, renunciar, pedir perdão aos mortos; dizer que o sujeito pode, que faz e acontece; mandar repetir frases porretas e ao final, expulsar todos os 'coisa ruim' , dando nome pra cada um, que é pra impressionar (não pode esquecer).

Depois de tudo, o término, ápice da apresentação. O grand finale é a cura. Primeiro, olhar pra ver se não tem paralíticos, cegos, doenças assim constatadas, aparentes. O negócio é curar moléstias internas, invisíveis aos olhos (lembrei do Saynt Enxupery).

Traçados os rumos, é de bom alvitre fazer um treino intensivo com os parceiros do G 12. Eles têm muito tempo de estrada. Experiência é tudo nesse 'negócio'...
Eis como nasce um pregador/profeta nos tempos modernos.


por Ricardo Mamedes.